Foto: Blog do William
AUDIÊNCIA PÚBLICA DA SUZANO
*Por: Pe. Manuel Neves - Pároco
Como estava previsto, realizou-se na noite da última quarta-feira (25) a Audiência Pública sobre a
construção da unidade industrial da Suzano na Região. Uma grande multidão
presente. O ginásio d'O Pequeno Príncipe completamente cheio. Gente vinda até de
outros Municípios. Muitas autoridades. Ambiente de grandeza com tudo bem
definido. Primeiro falaram os diretores da Empresa e os coordenadores dos
trabalhos preparatórios de análise e projeção da unidade industrial.
Exposição
fantásticamente técnica e científica e, segundo foi dito, tudo segundo a lei. Só
teve um defeito que foi positivo para quem estava atento: de vez em quando
escapavam aos expositores as palavras: riscos, empacto ambiental,
consequências negativas, medidas mitigadoras, compensação ambiental, influências
diretas e indiretas... Até se poderia pensar que se estava preparando a
vinda de alguma árvore sagrada para enfeitar os presépios de natal. Mas não. Era
o plantio do eucalipto que estava em causa. Os presentes mantinham-se calados,
admirando a solenidade do ambiente. Uns dormitavam, outros admiravam os gestos
da tradução para surdos. Alguns prestavam atenção apenas à promessa de futuro
trabalho, o que muito foi falado.
Foi uma exposição alienatória, enganadora, dizendo bem da
empresa Suzano, engrandecendo sua história, elogiando sua grandeza e
especificando os benefícios que vai trazer à região do Baixo Parnaíba.
Insistiu-se demais na criação de empregos e na especialização da mão de obra. As
perguntas, por escrito, que se seguiram foram só pedidos de esclarecimento
sobre as exigências do emprego. Na
parede do ginásio, apenas, uma faixa dos movimentos populares contra a
construção da unidade industrial da Suzano. Depois de duas horas, vieram as
intervenções orais, apenas de três minutos.
O primeiro a falar foi Padre Neves que
referiu ter sido boa a exposição industrial feita, mas lamentou ter sido
desastroso o esquecimento da enumeração dos prejuízos enormes do plantio de uma
árvore que vai degradar nossa região, desertificar os terrenos, afastar ainda
mais a água duma área do cerrado,
semi-árida, causar enorme êxodo rural, acabar com a fauna e com muitas espécies
de árvores da região. Os terrenos atingidos nem capim vão mais produzir e até os
pássaros e outros animais vão fugir. É falso que as raízes dos eucaliptos são
pequenas. O eucalipto vai buscar água longe, acabando com nascentes, brejos e
secando depressa até correntes de água.
Essas unidades industriais costumam
lançar tão mau cheiro no ambiente que atinge quilómetros de distância. Os
parceiros que aderirem ao plantio de que
vão viver enquanto os eucaliptos crescem? E na venda das toras de madeira que a
Empresa, única na região, vai comprar ao preço que quiser será que esses
parceiros vão ter dinheiro para retirar os ramos restantes que são favoráveis a
grandes incêndios? A geração de empregos para nós devia-se fazer com a promoção
da agricultura familiar sustentável, porque o nosso povo está com fome e
trabalha só para subsistir. Seca já temos e em demasia.
Vejam o que nos está
acontecendo este ano! Os paliativos de projetos apresentados só demonstram os
enormes prejuízos que vão acontecer. Até vocês compreendem, mas não querem
referir. Se os benefícios fossem tão grandes, como querem, que nós acreditemos,
pergunto: porquê o plantio do eucalipto só se faz nos países e nas regiões mais
pobres? Maranhão é o Estado mais pobre da Federação e a Região do Baixo Parnaíba
a mais necessitada.
Por tudo isto e muito mais que apresentaria se o tempo desse,
sou contra o projeto. Que Governo é o nosso que mais privilegia o lucro de uma
grande empresa que o progresso da nossa gente? A audiência pareceu despertar e
aclamou a posição do Pároco por várias vezes. Outras intervenções foram na mesma
linha, insistindo na necessidade da mão de obra na agricultura familiar
O que se passou não foi Audiência Pública. Foi uma sessão
pública de alienação e propaganda da Suzano, empresa em péssima situação
económica. A Secretaria Estadual do Meio Ambiente não se pronunciou, as
Promotorias Públicas nem estiveram presentes e a população não se pode
manifestar como queria. Deve haver movimentação popular para esclarecer os
prejuízos para a região que não tem agricultura familiar. Responsabilizo as
autoridades por não auscultarem a população e por os motivos do projeto que
querem realizar aqui serem políticos e não técnicos.
*Extraído do Blog da Paróquia de Chapadinha