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Prof. Jânio Ayres |
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Olá! Sou o Professor Jânio.
Tenho sido alvo de questionamentos quanto à minha postura frente à greve dos professores do Estado do Maranhão.
Tem-se questionado se o Professor Jânio, um sindicalista chapadinhense, aderiu ou não à greve e, ainda, se estaria tentando boicotá-la, inclusive instruindo outros companheiros a voltar às aulas.
Há questionamentos, inclusive, sobre meu real compromisso sindical, o que vem a repercutir em minha possível candidatura à presidencia do SINDCHAP, Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Chapadinha-MA, a ocorrer em maio deste ano.
Bom, o fato é o seguinte:
Realmente sou um sindicalista e, por isso, tenho um compromisso com minha categoria. Não posso submeter toda uma coletividade a uma situação de prejuízo salarial e, talvez até funcional (dado o fato de os professores contratados e em estágio probatório estarem à mercê de punições mais severas que aqueles do quadro há mais tempo).
Certifiquei-me com lideranças do Sindicato Estadual e fui informado de que não haverá prejuízo nem para os alunos e nem para os professores. Contudo, a informação que chega da Secretaria de Estado da Educação é que haverá prejuízo sim.
Outra coisa, a greve foi decretada ilegal pela justiça. Isso é incontestável. Até que me prove o contrário e até que o Sindicato Estadual consiga reverter essa situação, o quadro é ainda mais desfavorável à permanência de contratados e em estágio probatório no movimento.
Sindicalismo não é ativismo automático e imprudente. Deve-se ter estratégia de ação de forma a que se minimize os problemas e que o resultado seja o mais eficiente possível.
Não posso submeter, tanto a mim, quanto a colegas em situação semelhante, ao risco de prejuízo à estabilidade profissional. Aqueles que afirmam que não haverá punições ou prejuízos são (acredito que em sua grande maioria), professores que já superaram o estágio probatório ou que não são simplesmente contratados. Para eles, quanto mais indivíduos a aderir ao movimento mais força ele vai ter.
O grande argumento é o de que precisamos lutar para haver um ganho coletivo e igualitário. Concordo! Só que, se o ganho pode ser coletivo e igualitário, o prejuízo não será da mesma forma coletivo e igualitário, pois alguns encontram-se em condição mais fragilizada do que outros.
Além de tudo isso. Tenho motivos muito pessoais para valorizar a minha situação de servidor do Estado, até mais que minha condição de sindicalista. Entenda:
No final de 2001 e início de 2002 o Governo do Estado abriu Concurso Público para professor. Contudo, não abriu vagas para professor de filosofia (área em que sou formado). Mesmo assim, eu me inscrevi para a área de história e, vejam, passei em primeiro lugar em Chapadinha-MA, na frente inclusive de pessoas formadas na área.
Tentei inclusive na justiça tomar posse, mas fui impedido por força legal. Mas tudo bem, Deus sabe para quem Ele havia reservado aquela vaga.
Contudo, minha mãe, Maria José (conhecida como Mazé Cocal), passou por fase de grande sofrimento devido à minha luta por uma vaga no Estado.
De tão angustiada e somando-se a problemas de saúde, veio a falecer em 2004, sempre na esperança de eu ser empossado naquele emprego ou, ainda, que o Estado abrisse novo concurso, agora incluindo Filosofia.
Depois disso, o Congresso aprovou a lei da obrigatoriedade da Filosofia no Ensino Médio, obrigando, assim, a ocorrência de concurso incluindo essa disciplina entre as vagas.
Assim se procedeu. O Governo do Estado abriu concurso e eu me inscrevi. Novamente passei em primeiro lugar e, assim, ofereci essa vitória à minha mãe que, há alguns anos, havia falecido com a esperança de me ver segundo seus passos de professora do Estado.
Comecei a trabalhar em meados de abril de 2010 e encontro-me em estágio probatório no Estado.
Eu e minha esposa estamos casados há sete anos e estamos tentando ter um filho, o que acreditamos ser possível neste ano de 2011 ou início de 2012. Não posso tomar uma decisão extra familiar que, de certa forma, poderá interferir na situação intra familiar.
Minha esposa também faz parte de minha decisão em participar ou não do movimento, e de como participar. Se ela exige ser levada em consideração nessa decisão, não posso agir pensando que a família não conta. Quantos dos que estão no movimento consultaram suas esposas ou esposos ao aderir?
Por tudo isso, não posso desperdiçar uma chance dada por Deus e dedicada à minha mãe, além de ser a viabiliade de minha estrutura familiar.
Não posso ceder aos ímpetos impulsivos de meu espírito sindical estando em uma situação de compromisso com minha história e minha família.
Meu posicionamento pessoal não significa que não considero as reivindicações do Sindicato Estadual plenamente válidas e necessárias. Na verdade, o que não considero correto é a estratégia utilizada e a compreensão limitada de situações específicas e que precisam ser observadas.
Há hora apropriada para avançar e hora para frear. Não podemos gastar todas as nossas forças em um contexto desfavorável.
Continuo com meu compromisso com a minha categoria e conclamo à reflexão e ao debate, sem emoções superficiais e nem chavões pré-fabricados.
O pensamento marxista estava correto em muitos pontos. Só que seu discurso reducionista das relações de trabalho à dicotomia de classes encontra-se superado e precisa haver uma compreensão mais ampla das possibilidades de luta.
A Guerrilha do Araguaia teve seus méritos enquanto exemplo de vivência ideológica. Sim! Contudo, foi um alerta de que precisamos levar em consideração o contexto mais amplo dos fatos e a nossa capacidade momentânea de implementar as mudanças necessárias.
Agradeço àqueles que compreenderem minha manifestação e, ainda, declaro meu pesar àqueles que ainda demorarão algum tempo para compreender.
Obrigado!
por: Jânio Rocha Ayres Teles
professor da Rede Estadual de Ensino do Maranhão
(via E-mail)