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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Um Ser Humano Morreu... Parabéns?


Almir Moreira
Na mídia local noticia sobre a prisão e morte no confronto entre policia e suposta quadrilha de criminosos na espreita para agir ou estava agindo na cidade, não sei de maiores detalhes. Sei da morte de um suposto criminoso e na prisão de comparsas seu. Até aí a lógica funcional, polícia é para prevenir e coibir é instrumento legal de coerção do Estado, conceito aceito desde que o Estado é Estado.


Contudo, chama a atenção o festejo de alguns pelo ocorrido, sobretudo pela morte de um dos quadrilheiros. Parece espírito de guerra. A polícia é parabenizada e o desfecho morte é exaltado. A polícia cumpriu seu papel, fez sua obrigação – agir na prevenção e coerção –, o faz, pelo menos aqui, dentro das condições estruturais a sua disposição com eficácia e respeito à lei. Portanto, nada de espetacular, normal. A morte, nos termos do festejo, revela sentimento de vindita, de conquista, de desprezo...

A violência urbana, fenômeno que não é só brasileiro, atormenta a vida de muitos desde muito tempo, entre nós praticamente reduzida aos grandes centros urbanos aos poucos, ou aos muitos vai se espraiando. É fruto da enorme contradição da opção de modelo econômico e social estabelecido desde a colônia até hoje, claro reservado as mudanças econômicas inseridas no próprio sistema. Este modelo recebe apoio, inclusive dos que mais instrução tem e geralmente dos festejadores de fatos como o tratado aqui. De norte a sul de leste a oeste o Brasil se constituiu de forma desigual, exclusivo, autoritário e demagógico. Somente com o advento da redemocratização, ainda um pingo d’ água nessa história de 500 anos, demos os primeiros passos para romper com essa barreira, e o governo petista, apesar dos percalços, é o grande motor desta mudança.

Ninguém nasce com o selo de bandido, no geral são as condições de vida social – aqui abrange relações sociais e econômicas, falta do Estado na execução de políticas de inclusão e de socialização da renda - as responsáveis pelo embrutecimento de muitos. São os apelos do capitalismo moderno, concentrador de renda, consumista ao extremo e a libertinagem de parte execrável da mídia partes desta mesma engrenagem co-responsavéis por essa violência.

O humanismo produto da melhor tradição da Grécia antiga incorporado à nossa consciência coletiva e materializado nas nossas leis não pode sucumbir ao pensamento formal, analítico dos fenômenos sociais em si mesmo separados do contexto do qual estão inseridos. E se o apelo por uma análise deste fenômeno da violência dentro dos aspectos do humanismo e do avanço das ciências sociais não bastarem para alguns, pelo menos não nos esqueçamos, dentro de nossa tradição religiosa a vingança não é permitida e o amor ao próximo é a base de sua estruturação.

Nossa luta não é por mais polícia, nossa luta é para criar condições para que cada vez mais não precisemos dela para resolver questões que a todos nós, através do Estado, compete resolver: vida humana para quem vive em vida desumana.
 
*Texto original publicado no Blog do Alexandre Pinheiro
 

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