Por: Giovânia Costa
Quando o professor não vai
ao trabalho não é algo que diz respeito
somente à consciência (ou inconsciência) do profissional que sabe que o seu
gesto vai afetar mais de uma centena de crianças ou jovens (visto que, dificilmente,
um professor regente vai até à escola para dar menos de três aulas num dia).
Não estou com isso querendo
dizer que o professor deva estar acima do bem e do mal e não faltar nunca.
Claro, que como todo profissional, ele tem direito a faltar, desde que essas
faltas sejam realmente justificáveis. Infelizmente, sabemos que muitos abusam
desse direito.
Por lei, o servidor estadual
pode faltar até dois dias por mês
apresentando atestado médico. São as faltas abonadas! O diretor da escola
também pode “abonar” a falta do profissional, mesmo sem nenhuma documentação
que comprove ou justifique a falta. Mas, se por um lado isso facilita a vida do
professor por eliminar a burocracia que “come” o tempo que já nos escapa, por
outro lado abre espaço para o favoritismo. Mas isso nos leva a outro assunto!
Há os profissionais que não
faltam nunca. Mais que isso. Se o conselho de classe é marcado em dias que não
são os deles, lá estão. Nos projetos extraclasse dão o seu suor e acabam
trabalhando muito mais horas do que a carga horária fixada exige. Essa
dedicação dependerá sempre da disponibilidade individual. Há os que não podem
se dar a esse “luxo”, há os que não querem, e a isso não são obrigados.
Oxalá, estivessem todos em
sala de aula todos os dias. O que só seria possível num mundo ideal, sem idas ao
médico, ao dentista, sem faltas de empregada, sem filho passando mal, sem
cursos, sem atrasos, sem pneu furado.
Ou seja, sabemos que o
professor, mesmo o mais consciente e empenhado na sua prática como educador,
não está livre de problemas e poderá precisar faltar. E aí? O que fazer com os
alunos? Mandar embora para casa? Ficar no pátio esperando o outro tempo?
Desarrumar o horário de outros professores, pedindo: “dá para adiantar para a
turma X?”. Aí começam as improvisações...
Não estou com isso querendo
responsabilizar o professor (cada um sabe de si e dos seus motivos para
faltar), mas sim a própria escola, que no meu entender deve ter um plano B para
tais situações.
Antigamente, havia o
professor substituto, mas a carência de pessoal já é tanta que hoje seria um
luxo ter alguém só para cobrir às faltas. E também não adiantaria muito pois,
às vezes, faltam dois, três professores, no mesmo dia. Haja substituto!
Seria de bom tom que o
próprio professor passasse alguma atividade para o dia que não pudesse estar
presente na sala de aula. Sabemos que muitos o fazem. Mas, em geral, os alunos
são deixados no pátio sem nenhuma orientação. Os que gostam de jogar bola vão
jogar bola, os que são mais tímidos se colam nas paredes e ficam a olhar os
demais, os que gostam de música ficam com seus walkmans ou radinhos, e assim,
literalmente, veem o tempo passar. E ainda existe sempre o perigo de algum
gaiato de outra turma se misturar aos colegas sem aula e faltar às suas
próprias dentro do colégio - o que por mais estranho que pareça, é difícil de
ser controlado, posto que a caderneta escolar se tornou artigo raro.
Quando um professor falta,
uma escola responsável não deixa seus alunos sem terem o que fazer! Se o
professor não deixou nenhuma atividade, por descuido das suas tarefas ou por
que a falta foi pontual e imprevista, a escola deveria estar preparada para o
plano B. Qual seria? Isso é para cada instituição estabelecer. Poderiam ser,
por exemplo, atividades culturais, tão ausentes do currículo.
A escola não é somente um
espaço físico, é uma organização e como tal não pode simplesmente “deixar os
alunos por ali”. Falta o professor e os jovens ficaram sem nada para fazer?
Então é falta da escola!
*Enviado por e-mail a este blog, por Paulo Coêlho - cidadão
chapadinhense, pedagogo, professor universitário, especialista em Docência do
Ensino Superior, Educação do Campo e Gestor Educacional.