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terça-feira, 4 de junho de 2013

Dewis Caldas leva Luiz Gonzaga à Europa e de lambuja circula pelo Festival de Veneza

Dewis Caldas leva Luiz Gonzaga à Europa e de lambuja circula pelo Festival de Veneza
O ludovicense Dewis Caldas é uma das referências na análise da cultura contemporânea cuiabana. Já se ateve ao rock, ao lambadão e ao que parece, por conta do sangue maranhense se inclinou a pesquisar também a sonoridade nordestina, mais especificamente o forró.
Por: Lidiane Barros - Do site Olhar Conceito


Inteligência artificial cria emaranhado de palavras sem vida; a alma transforma em poesia

Em janeiro deste ano viajou por três cidades pernambucanas para sondar a vida de Luiz Gonzaga em tempo de celebração do centenário de nascimento daquele que é um dos maiores sanfoneiros e compositores da história da música brasileira.

Em uma semana de festas em Exu – cidade natal de Gonzagão – ele colheu depoimentos de grandes expressões, como Gilberto Gil, Dominguinhos e Elba Ramalho.

O domínio do documental e o livre trânsito na música podem ser explicados quando Dewis relembra sua infância. A mãe a irmã são jornalistas também, e o gosto musical começou a ser estimulado aos 12 anos, quando a mãe insistia que tocassem juntos na igreja. 

Ela comprou instrumentos e chamou alguém para ensinar. Não surtiu tanto efeito no instrumentista em potencial, mas realçou o gosto pela pesquisa. “Pesquisei hinos aí eu comecei a pesquisar hinos antigos, coletar temas de vários compositores e países, aí comecei a pirar muito em entender a linha cronológica e estéticas que se diferenciavam de país pra país, até que virei um cara que escutava muita musica". 

Dewis - que também viveu sua fase de enxadrista profissional - veio para Cuiabá estudar jornalismo e envolvido na comunicação de projetos musicais começou a pesquisar também o cenário local se amparando pelo rock da década de 50 aos dias atuais. Ao desenvolver o Trabalho de Conclusão do curso, imergiu na Baixada Cuiabana para revelar a faceta sustentável do universo do lambadão. 

O material que resultou da viagem ao nordeste, no início do ano, leva consigo para a Europa. Dewis Caldas é um das 100 pessoas selecionadas pelo Festival Cinema da Maré e no dia 25 de junho, embarca rumo a oito cidades italianas para estudar Cinema por três meses. O curso, voltado a cineastas, atores e estudiosos têm disciplinas técnicas, como de roteiro, direção de fotografia e trilha sonora, entre outros. 

Nesta aventura apoiada pelas Organizações Unidas (ONU) Caldas quer tirar proveito do intercâmbio entre estudantes do mundo todo e saber das experiências cinematográficas, de outras estéticas, além de se voltar para a trilha sonora. "Quero virar expertise em trilha sonora para filmes. Quero me especializar nisso, afinal de contas vai estar casado com as minhas pesquisas. Vou levar meu documentário para lá, para estimular possibilidades, o nordeste é muito rico e chama a atenção". 

Os amigos torcem para que ele volte ao menos com várias propostas de exibição. 
Depois do curso, a prática de um grande festival. "No final do curso vamos para o Festival de Veneza, de cracházinho e tudo", se diverte. 

Confira na íntegra a entrevista que ele deu ao Olhar Conceito:




Olhar Conceito: Fale um pouco da sua trajetória. Como foi até chegar em Cuiabá? 


Então, estou aqui há oito anos, cheguei em janeiro de 2005.Sou de São Luiz, mas morei muitos anos em Chapadinha (que fica ha 247 KM) e que é a cidade da minha avó, onde minha irmã mora, onde minha mãe nasceu... Eu vim pra cá pra estudar jornalismo. Tinha terminado a faculdade. Lá em casa somos três. Eu, minha mãe e minha irmã somos jornalistas. Minha tia Olenice já morava aqui e morei com ela muitos anos.

De lá para cá você tomou um caminho mais específico né? Passou a se dedicar à pesquisa musical. De onde vem essa inclinação para o estudo da música? 

O sonho da minha mãe era que nós tocássemos na igreja. Aí um dia - quando eu tinha doze anos - ela foi na loja e comprou dois violões, teclado, caixa de som, microfone, contratou um professor para nos ensinar lá em casa. Ele ia mas a gente não tinha muito interesse. Ai depois ela nos matriculou na Escola de Música do Maranhão “Lilah Lisboa”, que é uma das mais tradicionais de lá, mas mesmo assim a gente não botou muita fé não.

Aí, um ano depois, quando eu morava em Campina Grande (PB), comecei a estudar o violão. Ai voltei pro Maranhão e toquei mais de cinco anos na Igreja Batista, onde aprendi a tocar tudo (ou pelo menos um pouco de cada, rs). Ai eu comecei a pesquisar hinos antigos, coletar temas de vários compositores e países e comecei a pirar muito em entender a linha cronológica e estéticas que se diferenciavam de país pra país, até que virei um cara que escutava muita música. E também deixei mais de lado o lance da música, quando mais novo, porque eu jogava xadrez profissional pelas escolas. Então boa parte do meu tempo era jogando, estudando as variantes e aberturas do xadrez, e era isso o que eu mais pirava".

Você sempre esteve envolvido com a música, como produtor, instrumentista e como estudioso. Tem algo a ver com sua experiência com o Fora do Eixo embrionário?
Meu tio Ormanne fazia muitos eventos em Chapadinha, sobretudo festas com banda de forró, que davam dez mil pessoas por ai. Eu sempre ajudava, estava no meio. Seja na bilheteria, na produção, na comunicação. Fui pegando gosto por trabalhar em um evento, não só ir. Ai sempre estive metido. Mas o lance da pesquisa mesmo surgiu aqu em Mato Grosso. Em 2006 eu criei um blog chamado Buszine. Era um blog sobre a cultura cuiabana, as bandas, artistas... mais pro lado do rock mesmo. O blog estava legal, quem fazia era eu e a Ana Carolina de Moares, que hoje mora em São Paulo. Então comecei a escrever sobre a cena, resenhar os eventos. E eu já era colunista da revista rock press, do Rio de Janeiro, falando sobre a cena local e tal.

O Pablo [Capilé] me add no MSN e disse que queria me mostrar todo os projeto do Espaço Cubo, o Fora do Eixo (que tinha acabado de nascer) e também discutir o desenvolvimento da cena musical local. Eu fui lá e gostei. Saí de lá como o novo editor do Blog Hellcity, e fiquei nele por um ano e meio. No começo de 2007, logo em seguida, participei da fundação da Volume -Voluntários da Musica como o primeiro coordenador de comunicação e atuamos como co- produtores de todos os festivais e ações que o cubo fez nesse período.

Ajudando a colocar Cuiabá no mapa. Foram muitas coisas, cursos em escolas, mutos eventos, zines, publicações..Vários eventos e paralelo a isso eu tinha uma banda que era a Los Bobs, uma banda de brega-rock. Em 2008 saí de todo o processo, pensando em não mais trabalhar como produtor, mas partir definitivamente para a pesquisa musical Fiz projetos com o samba (samba de quinta no canela fina), trabalhei com uma banda evangélica (louvor Aliança), na Orquestra do Estado de Mato Grosso, com duplas sertanejas, e com mais de 30 bandas de rock.

Fiz a monografia sobre o lambadão e já escrevi para vários veículos pelo brasil, em 14 estados. [A pesquisa sobre o rock cuiabano está documentada em http://rockcuiaba50anos.wordpress.com/dewis-caldas/ e Dewis também é colunista do Olhar Conceito, onde escreve às quintas-feiras]

E como surgiu o projeto do Gonzagão?
Eu sempre fui fã do sanfoneiro. E desde pequeno planejo ir conhecer o sertão do Araripe, lá em Exu, que é a cidade onde nasceu. A ideia era levar o violão para tocar com os cantadores, para ver de perto o legado deixado por Luiz. Isso porque estudei muito as vertentes, movimentos e gêneros musicais brasileiros e a presença de Luiz Gonzaga é muito forte, está no DNA da música brasileira tanto quanto Villa Lobos.

Do rock raulseixista até a bossa nova, da tropicália até os Raimundos, tudo tem um pouco do que o Gonzagão criou.Aí como comemoráva-se o centenário dele resolvi ir para entender o legado dele numa visão não só musical, mas também social e de identidade. E o documentário é sobre o Luiz Gonzaga hoje, e quem são os luiz gonzagas de hoje se não aqueles que contam suas historias, cantam sua musica, ensinam o filho a ouvir, aquele que vende camisetas com fotos de Luiz, os parceiros, pesquisadores, colecionadores, jornalistas, biógrafos, produtores.

Como foi sua passagem por lá?

Eu fiz 39 entrevistas em três cidades: Recife, Caruaru e Exu. Fiquei 27 dias, perdi 7 kg. Fui sozinho com duas malas: uma só de roupas e necessidades básicas e outra só com equipamento: câmera, gravador de audio, notebook, a biografia mais detalhada e minhas anotações. O nome provisório do doc é “Óia eu aqui de novo” Na terra de Luiz Gonzaga no ano do centenário. "Óia eu aqui de novo" é uma música dele, de 1967.

Você teve a oportunidade de falar com gente muito importante na história dele, quem? 

O mais massa foi em Caruaru. Cheguei lá fui recebido pelo Onildo de Almeida, que hoje tem 84 anos. Ele é o compositor de A Feira de Caruaru. Inclusive, a feira de Caruaru, a maior feira livre do mundo, se chama Feira Compositor Onildo de Almeida e há uma estátua dele lá. Luiz Gonzaga gravou 23 músicas dele, tipo as mais clássicas. Ele me levou no museu do Gonzagão, me deu uma entrevista super emocionada. Tocou piano, algumas músicas de Luiz. Depois me levou na Rádio Nordeste que ele fundou ha 54 anos. Acompanhei um programa especial sobre Luiz, e até dei entrevista. Ele é uma figura mitológica na cidade e em todo o nordeste. É um dos maiores compositores da musica nordestina com mais de 650 canções gravadas por caras como Caetano, Gilberto Gil, Chico Buarque, Tom Jobim, e tudo mais.

Cada personagem desse rendia um documentário, não é? 

O compositor João Silva que é outro grande nome, compositor de Pagode Russo, Danado de Bom, Nem se despediu de mim e outras tantas mais. Só o Luiz gravou 88 músicas dele. Ele foi um grande produtor, morou a vida inteira no Rio e agora voltou pra Recife. Me recebeu em sua casa, conversamos muito, me confidenciou várias coisas da relação com Luiz e também da dele como artista. Tem inúmeros discos gravados, a biografia que é muito conhecida e agora vai sair um longa-metragem contando a história dele. Entre os entrevistados tem Elba Ramalho, Gilberto Gil, Dominguinhos e o Quinteto Violado. Foi muita gente boa, afinal, foi uma semana de festa organizada pelo Governo de Pernambuco e a cidade que tem pouco mais de 32 mil habitantes recebeu mais de 40 mil pessoas por noite.

[O documentário é editado por Odair Sigarini com supervisão do professor Yuri Kopcak, da Unirondon. Vai ter 53 minutos, com legendas em inglês/espanhol/francês]

"Vou tentar o mercado lá fora, dos festivais. A ocasião é boa, já que estou de viagem marcada para um curso de cinema na Itália. No ano passado um dos instrutores foi o diretor Win Wenders". Ele viaja junto à produtora Viviane Alencar e Hugo Benedito e pretende fazer uma mostra de filmes mato-grossenses durante a realização do curso.

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