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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Agronegócio avança no Baixo Parnaíba e preocupa pesquisadores

Campo de plantação de soja em Anapurus-MA.
 

Por: Viviane Monteiro - Jornal da Ciência
O interior do Maranhão, especificamente a região de Baixo Parnaíba, que desponta como uma nova fronteira agrícola, principalmente para o plantio de soja e milho, começa a preocupar pesquisadores pelo fato de representar uma ameaça à produção de culturas tradicionais, como o babaçu e pequi; à agricultura familiar que abastece a população local, e ao meio ambiente. O tema centralizou o debate da mesa redonda “Os Impactos do Agronegócio na Região do Baixo Parnaíba”, realizada no último dia da Reunião Regional da SBPC, quinta-quinta-feira (24), na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), no Campus de Chapadinha. O evento foi realizado na cidade de mesmo nome e que detém cerca de 60 mil habitantes, situada a mais de 200 km de São Luís.


Fizeram parte do debate os pesquisadores da Embrapa, Milton José Cardoso, e Aberício Pereira de Andrade, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e o representante do Incra, José Inácio Sodré Rodrigues.


O Baixo Parnaíba é composto por 16 cidades, incluindo Chapadinha, com uma relação socioeconômica e cultural. A região é responsável por uma área de extensão de 19.178,80 Km² de hectares, com sérios problemas sociais e com IDH médio de 0,55.


As informações são de que as atividades de produtores rurais do Rio Grande do Sul e do Centro-Oeste, considerado o celeiro de grãos do País, estão migrando para o interior do Maranhão, onde há disponibilidade de terra, clima favorável à agricultura e transporte para o escoamento de grãos, como o Porto de Itaqui,
o 2º mais profundo do mundo e um dos mais movimentados.


O pesquisador da Embrapa, Cardoso, confirmou a informação de especialistas locais de que o plantio de soja e milho cresce acentuadamente na região que está entre as regiões com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (HID) do Brasil, mas que possui vocação climática, com garantia de produtividade elevada, e extensão territorial.


Equilíbrio - Cardoso defendeu o plantio sustentável na região e equilíbrio entre a agricultura empresarial, geralmente destinada à exportação, e a agricultura familiar (arroz, feijão, milho) para garantir a produção de alimentos com conservação e proteção do meio ambiente.


As áreas agrícolas estratégicas ocupadas para a população local estão perdendo espaço para a soja e milho”, destacou Cardoso.


Produção de milho - Cardoso citou, por exemplo, os últimos dados da Conab que mostram que a estimativa para todo o Estado do Maranhão para safra de milho da temporada 2011/12 ocupa uma área considerável de 592,2 mil hectares, o equivalente a uma produção de 977,1 mil toneladas, com rendimento médio estimado em 1,65 mil quilos por hectare. Estima-se que a produtividade do milho chega a variar entre 6 e 7,5 toneladas por hectare, em média.


Com base em dados do Banco do Nordeste, o pesquisador da UFPB, Andrade, citou que a soja é a atividade agrícola que mais cresce em Chapadinha, por exemplo, cidade onde o plantio começou a partir de 2003, e hoje acumula taxa de crescimento de 92,23% nos últimos nove anos. Ao lembrar que cerca de 70% do alimento consumido no Brasil tem origem na agricultura familiar, Andrade defendeu aumento de políticas públicas para esse segmento que responde apenas por 11% das políticas agrícolas do País. Enquanto isso, a agricultura empresarial, geralmente voltada para o mercado externo e à formação do chamado superávit comercial , responde por 89% do crédito concedido por bancos públicos ao setor.


Políticas públicas - O pesquisador da UFPE também defendeu eficiência no sistema agrícola para permitir aos pequenos agricultores brasileiros o acesso ao conhecimento científico e tecnológico, além de educação. “Os esforços têm de ser multiinstitucionais e é preciso ordenar esforços para a melhoria da sociedade. É preciso trabalhar o longo prazo”, destacou.


Atenção do Incra - Em uma tentativa de minimizar os impactos da aceleração desproporcional do agronegócio no Baixo Parnaíba, o representante do Incra, Sodré Rodrigues, destacou que o objetivo do órgão é fortalecer a agricultura familiar na região. Estima-se que existem na região 30 mil agricultores da área familiar e 6,7 mil de famílias assentadas, sendo em 15 comunidades quilombolas. A proposta do Incra é analisar os novos detentores de terras na região.


Desmatamento em ação - Um dos pesquisadores do Fórum em Defesa do Baixo Parnaíba, Luiz Alves Ferreira, Secretário Regional da SBPC no Maranhão, estudioso dos impactos da aceleração do agronegócio da região, chamou a atenção para o elevado desmatamento da região. Em linhas gerais, Ferreira, que acompanhou a mesa redonda do lato da plateia, disse que o estudo do Fórum revela que em regiões como o Brejo, cidade da região, com 27 mil habitantes, aproximadamente, o índice de desmatamento cresceu 420,8% entre 2000 e 2004, a maior taxa de desmatamento verificada entre as demais regiões do Baixo Parnaíba, causando impacto nas culturas tradicionais.


O pequi está saindo do prato das pessoas da região”, disse.


Já em Chapadinha, o índice de desmatamento aumentou 11% no mesmo período. O estudo destaca também uma eventual concentração de terras, considerando que mais de 1 milhão de hectares (dados de 2004) já estão sob o controle de grandes proprietários rurais.


Com base no estudo do Fórum, Ferreira declarou que os principais problemas para a região, que detém os piores indicadores sociais, são os avanços dos grandes projetos sobre territórios ocupados pelas comunidades tradicionais e quilombolas, comprometimento de recursos hídricos, insegurança alimentar e nutricional. Além disso, os dados do Fórum destacam que o avanço da fronteira agrícola do agronegócio, da forma como está sendo praticada na região do Baixo Parnaíba, viola os direitos humanos, pois intimida a população local. Fora isso, destrói o meio ambiente, tanto pelo desmatamento, quanto pelo uso de agrotóxicos, com graves riscos à preservação da integridade das bacias hidrográficas da região, com destaque para os lençóis maranhenses, o que também traz prejuízo às comunidades e moradores locais.

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