segunda-feira, 10 de junho de 2013

ARTIGO: Preocupação com a Educação...


Por: *Paulo Coelho

A preocupação com a educação não é apanágio dos educadores modernos, apenas.

Em 1828, o professor Rivail, diretor de escola da academia de Paris, França, e membro de diversas sociedades científicas, escreveu um opúsculo intitulado "Plano Proposto para a Melhoria da Educação Pública."

Em seus escritos o professor Rivail considera a criança como um ser extremamente impressionável desde seu nascimento, e talvez antes, o que nos faz supor que aquele pedagogo admitia a pré-existência da alma.

Chamou a atenção dos educadores para se evitar, cuidadosamente, tudo o que pudesse fazer com que a criança experimentasse impressões negativas.

Não considerava como más impressões apenas o exemplo do vício, os maus conselhos ou as conversações pouco adequadas.

Mas alertou sobre um grande número de outras sutilezas que exercem uma influência freqüentemente mais perniciosa do que o triste espetáculo do vício.

E nessas sutilezas incluiu a fraqueza dos pais e a rigidez demasiada dos mestres.

Quando cedemos, por exemplo, às suas importunações, quando toleramos seus defeitos sob vãos pretextos, quando nos submetemos aos seus caprichos, enfim, quando deixamos a criança perceber que somos vítimas de suas artimanhas.

Ou, ainda, quando não buscamos saber o móvel das suas ações e tomamos defeitos ou germes de vícios por qualidades, o que ocorre freqüentemente.

Quando não consideramos as circunstâncias sutis que podem modificar tal ou qual ação da criança, ou quando não levamos em conta as nuanças de seu caráter.

Tudo isso faz com que a criança experimente impressões que podem se constituir em fonte de vícios graves.

Um sorriso, quando seria preciso ser sério; uma fraqueza quando seria preciso ser firme; a severidade quando seria preciso a doçura; uma palavra sem pensar, enfim, bastam, às vezes, para produzir uma impressão e fazer germinar um vício.

Que acontecerá, então, quando essas impressões forem ressentidas desde o berço, e, comumente, durante toda a infância?

As punições também constituem um triste capítulo na história da educação da infância, podendo contribuir com grande parte dos defeitos e vícios.

Freqüentemente muito severas ou infligidas com parcialidade e num momento de mau humor, elas irritam a criança em vez de convencê-la.

Quantas artimanhas, quantos meios de desvio, quantas fraudes ela não emprega para as evitar!

É assim que se joga nelas as sementes da má fé e da hipocrisia, e este é, muitas vezes, o único resultado que se obtém.

A criança irritada ao invés de persuadida, se submete à força. Nada lhe prova que ela agiu mal; ela sabe apenas que não agiu conforme a vontade do mestre; e esta vontade ela a considera, não como justa e razoável, mas como um capricho e uma tirania.

Pensando um pouco sobre essas questões, chegaremos à conclusão de que devemos estabelecer laços de afeto e confiança recíprocos entre nós e nossos educandos, para que a educação seja totalmente baseada na superioridade moral e na persuasão e não na força física.


*Paulo Coêlho, Professor universitário, pós graduado em Docência do Ensino Superior, Educação do Campo e Gestor Educacional.

Arquivo do blog