Imagem da Fazenda Coceira
Relatos de populares levam a crer que Manim e um homem identificado como Lourival, da Suzano, estariam por trás dos conflitos
As opiniões sobre os conflitos na localidade Coceira, município de Santa Quitéria (distante 101 km de Chapadinha), se divergem. Estivemos naquela localidade e adjacências para esclarecer os reais motivos que levaram a comunidade a travar conflitos com um sojicultor local, o empresário Gilmar Lunelli de Freitas da empresa Masul.
O local em conflito é pertencente ao empresário acima citado e tem sede em Chapadinha. A área abriga a fazenda Coceira que, com base em licenças adquiridas por meio da SEMA, Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, desenvolve projeto agrícola com autorização para supressão da vegetação e com devida destinação do material lenhoso.
Desde o inicio das atividades os responsáveis pelo projeto estiveram visitando a comunidade em questão, repassando detalhes dos procedimentos futuros e obtendo aceitação de boa parte dos moradores. No entanto, após supostas visitas do prefeito de Santa Quitéria Maninho Leal, a situação começou a mudar.
Na localidade poucos falam. Aparentemente boa parte dos moradores temem algum tipo de represália. Os poucos que se dispuseram a conversar conosco, como o senhor Manoel Leitão, deixam claro que por trás de uma aparente revolta, “patrões” ditam as regras
DISPUTA POR TERRITÓRIO – A empresa Paineiras, ou Suzano, apontada por vários órgãos e entidades como principal grileira de terras no estado, detém nessa região enorme quantidade de terras. Nesse blog já mostramos falsificações de títulos e até mesmo da assinatura da governadora do estado, Roseana Sarney. Mecanismos usados pela indústria para expulsar poceiros de suas terras, apoderando-se do chão do sertanejo. (veja AQUI)
Curiosamente a Suzano tem ao lado da área que estaria em conflito, um grande plantio de eucalipto, matéria prima usada na fabricação de papel e celulose.
Em relato o senhor Manoel Pinheiro Leitão afirma que logo que a Masul iniciou os trabalhos naquela área, ele foi surpreendido por um senhor identificado como Lourival, irmão de Denerval, suposto gerente da Suzano no baixo Parnaíba. Segundo Manoel, Lourival estava acompanhado de dois homens fortemente armados em uma caminhonete e que a ele proferiram ameaças. Os homens pertenciam a uma segurança privada de São Luís, que presta serviço ao grupo Suzano papel e celulose.
Manoel Leitão disse que após informar que estava trabalhando para o senhor Gilmar, Lourival o indagou se ele não sabia que ali era uma área de conflito, informando que a polícia iria ao local, prenderia os tratores que estivessem em operação e que tudo seria destruído.
SUZANO x MANIM – em toda a comunidade é unanime, apesar de alguns negarem, a informação que o prefeito de Santa Quitéria teria tido sua última campanha eleitoral financiada pela Paineiras. Em troca o prefeito teria que manter as comunidades a favor das ações executadas pela empresa e contra a ação de terceiros, mesmo que dentro da legalidade.
Ainda segundo populares da Coceira e localidade Facão, é comum o repasse de pequenos valores financeiros a moradores dessas comunidades, pelo prefeito. Esses em troca de favores e controle sobre os mesmos.
A postura do prefeito e seus aliados é algo que também chama atenção. Dias antes de dois tratores serem incendiados Manim, acompanhado de seu vice, secretários e um parlamentar daquela cidade, teriam danificado partes mecânicas das máquinas, perfurado filtros entre outras peças. A ação foi de total vandalismo.
INCÊNDIO – Dois tratores foram incendiados. Um deles teve perda total, segundo os responsáveis. A ação criminosa ocorreu logo que o vigilante das máquinas saiu para ir rapidamente a sua residência. Ao retornar o pior já havia ocorrido.
O vigilante era o senhor Francisco Leitão, ou Chichico Leitão, como é conhecido. Ele relata que não havia sinais de trafego de veículos automotores no local, o que leva a crer que os responsáveis moravam próximos e foram à fazenda Coceira a pé.
Estivemos na delegacia de Santa Quitéria para obter informações das providências que estão sendo tomadas pela polícia, quanto ao caso. Fomos previamente informados que a juíza que responde por aquela comarca, Dra. Elaile Silva Carvalho, ordenou a abertura de inquérito policial, a fim de identificar os autores do crime.
ASSOCIAÇÃO DE MORADORES – Agora um fato bem interessante. O senhor Deusimar Rodrigues é o presidente da Associação de moradores da localidade Coceira. Ele se negou a dar entrevista sobre os conflitos, apesar de ser apontado por membros da comunidade como autor de uma denúncia na delegacia de Santa Quitéria.
A suposta denuncia resultou na apreensão de armas “bate-bucha”, utilizadas por caçadores locais e detenção do gerente da fazenda Masul, Juliano Martins da Silva. Na suposta denuncia constaria a informação de que grupos armados estariam intimidando as comunidades locais, o que não foi constatado pela polícia.
As escondidas dei inicio a uma conversa com o líder comunitário e de “cara”, Deusim, como é chamado, afirmou que eu deveria procurar o prefeito de Santa Quitéria, não ele. Perguntei então se era o prefeito o responsável pelo que estava acontecendo e meio sem jeito, Deusimar mencionou que achava que era isso que eu deveria fazer.
A conversa com o presidente da associação de moradores da comunidade foi um pouco tensa e ele demonstrou está inseguro em suas palavras. Deusimar nega ter sido autor de denuncia, assim como desconhecer o possível envolvimento de incentivadores no conflito.
Antes de conversar com o senhor Deusimar alguns moradores já haviam relatado que ele, junto com outros membros da referida associação, seriam contra a atividade da fazenda Coceira, mesmo após a fazenda ter cercado uma área onde há o plantio da cultura de arroz, impedindo a entrada de animais criados soltos por alguns dos membros daquela comunidade, evitando assim conflitos.
Por fim, o presidente da referida associação de moradores fez declarações comprometedoras. Questionado sobre possíveis responsáveis pelo incêndio nos tratores, ele então disse:
“- Eu nunca juntei aqui minha associação, meu povo, e digo povo umbora brigar lá com o Gilmar, vamos. Vamos parar os trator dele, ou então queimar trator, não. Isso aí seu Deusimar não faz e não fez, e faço! Isso aqui eu lhe digo e digo e provo. Eu faço se o homem passar da estrada pra cá, nós faz. Faz por que nós tem ordem”.
Encerrando nossa conversa perguntei quem teria dado essa ordem, a resposta: “- nós tem ordem judicial”.
Pelo que todos acompanharam a situação é bastante controversa.
Populares afirmam ter ouvido do vice-presidente da associação de moradores da Coceira, o senhor Antonio Chagas, dias antes dos tratores serem incendiados, que o prefeito daquela cidade iria atear fogo nas máquinas, ou eles iriam. A afirmação desse morador leva a crer que por trás de uma falsa revolta de populares, existem interesses políticos, comandados pelo prefeito Maninho.
A situação é tão preocupante que fez com que o deputado estadual Marcos Caldas ingressasse na AL com um pedido de criação de uma CPI, para investigar a aquisição ilegal de terras no baixo Parnaíba.
A Atitude é extremamente louvável, mas para alguns sojicultores o deputado deve focar também o papel da Suzano nessa história. Para eles a Suzano é que é a verdadeira grileira de terras, a empresa está há mais de 20 anos grilando áreas na região.
Antenor Ferreira - Blog Interligado