Negro Cosme aborda a Balaiada (Foto: Divulgação)
Os municípios maranhenses de Itapecuru-Mirim e Chapadinha recebem nesta quarta (09) e sexta-feira (11) o espetáculo “Negro Cosme em Movimento”, via projeto Balaiada, uma iniciativa do Grupo Cena Aberta. O espetáculo faz parte da trilogia “Caras Pretas”, em andamento de montagem. A direção é de Luiz Pazzini. No elenco, estarão Necylia Monteiro, Renato Guterres, Rafael Paz, Tiago Andrade, Victor Silper e Andressa Passos.
O texto, de Igor Nascimento, aborda as relações complexas da Revolta da Balaiada (1838-1947), que aconteceu no período Imperial Brasileira, pouco conhecida pelos maranhenses e brasileiros em geral. Esse desconhecimento da história é reflexo da política oficial implantada desde a colonização e que se alastra até os dias atuais.
A historiografia oficial reduz a luta dos sertanejos, escravos aquilombados e outros maranhenses a insurgentes, facínoras, analfabetos e outros derivativos preconceituosos. A insatisfação que tomou conta dos excluídos do processo político, econômico e social da Província do Maranhão, com causas específicas, analisadas por diversos historiadores, estudiosos acadêmicos, e outros, foi o estopim para que o levante tomasse proporções assustadoras para o Imperador D. Pedro II, que enviou à província o estrategista Luís Alves de Lima e Silva, com o objetivo de “pacificar” a revolta, mas sob o manto da pacificação foram cometidas as maiores atrocidades. Hoje, o pacificador é tido como herói no panteão da história e os rebeldes, esquecidos como “bandidos” nos livros escolares e enterrados no subsolo da terra maranhense, onde lutaram pelos seus direitos de cidadãos.
A trilogia “Caras Pretas” e suas ramificações se fazem latentes na cena maranhense desde 2012, participando de vários eventos culturais, científicos e festivais, entre eles, o Festival Internacional de Teatro de Rua de Aracati (CE) e o 6º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária.
“Negro Cosme em Movimento” é uma pesquisa da linguagem cênica que tem por base a memória histórica maranhense (Revolta da Balaiada, 1838-1841), os espaços alternativos e do patrimônio histórico e artístico, o “Anjo da História”, de Walter Benjamin, e documentos históricos da revolta. Materiais estes que se interpenetram em uma dramaturgia aberta com traços estilísticos épicos, permeado pelo lírico e dramático.
O passado sendo olhado com os olhos do presente, em uma escritura dramática metalinguística composta da trilogia das estações históricas: eclosão da Revolta, em 1838, Invasão da Cadeia da Vila da Manga do Iguará (atual Nina Rodrigues), invasão dos revoltosos e o cerco da cidade de Caxias por Luiz Alves de Lima e Silva, além do enforcamento de Negro Cosme em Itapecuru-Mirim, em 1842.
Debates
A encenação está sempre em construção, que vai sendo acrescentada na proposta da escritura cênica embasada também por seminários internos e externos, oficinas performativas com inclusão dos participantes no roteiro do espetáculo. Os materiais que compõem o cenário, os figurinos e os adereços têm a marca da história, a exemplo da vela-cenário, da espada de Duque de Caxias, centenária, do processo de envelhecimento por meio de tingimentos com produtos naturais para os figurinos e adereços, como capas, pergaminho e banner em pinturas originais.
A cultura afrodescendente está presente nos cantos, nas danças guerreiras e nos toques de tambor, nas transições entre as estações. Poemas salmodiados rompem a linearidade das ações, com força lírica, vivificante, um chamado guerreiro que acentua o clímax dramático.
O Grupo de Pesquisa Teatral Cena Aberta foi formado em 2001, constituindo-se por graduandos do curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Participa do Grupo Pedagogias Teatrais e Ações Culturais, cadastrado no sistema lattes CNPq, por meio do projeto de pesquisa “Memória e Encenação”. O grupo tem sua pesquisa pautada na temática da memória, partindo das questões sócio-políticas maranhenses, com ênfase na trajetória do negro em seus diversos momentos históricos.
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