A presidente demite um ministro do PR, mas mantém a pasta nas mãos desse partido; demite ministros do PMDB, porém conserva as pastas sob o controle dessa agremiação
O ministro Orlando Silva, dos Esportes, estava no chão antes mesmo da decisão presidencial de excluí-lo do gabinete. Acusações graves de aparelhamento politico dessa pasta por seu partido, o PC do B, e sinais claros de corrupção, com o desvio do dinheiro público se dando através de ONGs de fachada, todas elas dirigidas por “companheiros”.
É delicada também a situação do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. Tudo começou em sua gestão ministerial, com Orlando de secretário-executivo.
Se é verdade que parte dos recursos desviados foram para o bolso particular de “camaradas”, é verdade igualmente que as campanhas de 2006, 2008 e 2010 foram abastecidas às custas de crianças carentes, que deixaram de receber a atenção do programa Segundo Tempo.
Infere-se daí que, direta ou indiretamente, as candidaturas de Lula (2006) e Dilma (2010) se beneficiaram de fonte tão espúria. Talvez esse fato explique o trabalho incompleto que a presidente realiza: demite um ministro do PR, mas mantém a pasta nas mãos desse partido; demite ministros do PMDB, porém conserva as pastas sob o controle dessa agremiação; demite ministro do PC do B, contudo insinua (até o momento em que escrevo este artigo) que seu substituto será outro comunista.
Ora, se foram detectadas irregularidades, o justo seria fazer intervenção efetivamente saneadora em cada segmento apodrecido do primeiro escalão. Agir diferente disso significa compactuar com a impunidade e estimular novas investidas sobre o erário.
Sinceramente, considero a taxa de pudor da presidente Dilma Rousseff bem superior à do seu antecessor. Vejo-a presa, entretanto, ao esquema ruinoso que viu ser montado para dar “governabilidade” a Lula e elegê-la em outubro do ano passado.
A demissão de cinco ministros sob acusação de graves irregularidades (Nelson Jobim saiu por outras razões), em menos de 10 meses de governo, demonstra a necessidade de profunda reforma do gabinete. O quadro atual se deteriora perigosamente e exige uma repactuação com a sociedade e com a tal base “aliada”.
Os ministros das Cidades e do Trabalho periclitam. Fernando Haddad, da Educação, dá show de incompetência a cada Enem. O cheiro é de instabilidade e crise, infelizmente.
Arthur Virgílio (Diplomata, foi líder do PSDB no Senado)
Extraído do Portal Brasil 247