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sábado, 3 de janeiro de 2009

A PAINEIRAS ACHA POUCO...

As pessoas tendem a achar que o céu está próximo e que documentação de terra farta cai dele como uma benção divina ou esconde-se em algum baú pronta para ser lavrada em cartório. Como se já não bastasse a desigualdade social, com a qual se convive diariamente, a sensação da proximidade do céu para uns acarreta outro tipo de desigualdade: a desigualdade espiritual.
Quem está abaixo na escada ou na escala, em nenhum momento, aparentar-se-ia com seus semelhantes da parte de cima da sociedade humana, pois os "desígnios divinos" se exibem, nos topos, nos cumes, nos cúmulos, nos píncaros, nos picos, nas montanhas e nas chapadas e nesses lugares cabem poucos e estes são os "escolhidos". Há toda uma escala hierárquica que deve ser respeitada e os "desígnios divinos" abrem mão de um detalhe ou de outro, menos disso.
Devem ser acachapantes essa sensação de proximidade do céu e essa sensação de isolamento para com os demais indivíduos da espécie humana. A secura, a qual o céu rende honras nos meses seguintes ao inverno, nos Cerrados do Baixo Parnaíba, perde feio para a fineza do homem que, imbuído dos "desígnios divinos", afasta de seu convívio a contradição do outro e a contradição da coletividade.
Ele descarta o outro e a coletividade, que comparecem em degraus mais abaixo, para fora das suas contradições como descartaria um dinheiro da carteira para pagar uma dívida ou um documento falso do cartório de Santa Quitéria (MA) para engabelar a assessoria jurídica do Instituto de Terras do Maranhão. A espiritualidade relativa dos “desígnios divinos” aventada por esse homem de boa vontade, porque foi de boa vontade que ele compareceu sabe lá Deus da onde para tomar de conta dos degraus da escada da prosperidade, comissiona ambição e arrogância.
A ambição e a arrogância desmedidas ditam o que será descartado e onde será descartado para que o futuro seja mais do que perfeito. Elas queimam asfalto porque habitam permanentemente a cidade. Quanto mais desmedidas a ambição e a arrogância forem, menos contradições aflorarão do interior da sociedade. As contradições sociais, econômicas e políticas persistirão abaixo dos “desígnios divinos”, mas o mundo voltará as suas esperanças para o que rola no topo e o que rola do topo para cima dele.
No Baixo Parnaíba maranhense, surpreende o desnivelamento das políticas públicas voltadas para a sociedade como um todo. Os políticos prestam favores à sociedade e as empresas de soja, de eucalipto e de siderurgia os favorecem no período eleitoral e favores você dá e quer algo em troca. É dando que se recebe - da lavra do ex-deputado Roberto Cardoso Alves nos idos da Assembléia Nacional Constituinte.
Nessa prestação de favores, a confiança de que ninguém trairá ninguém deve reinar. Uma das estruturas que acumula o descarte das contradições sociais, econômicas e políticas no Baixo Parnaíba maranhense permanece sendo os cartórios dos municípios de Santa Quitéria, Urbano Santos e Brejo. O plantador de soja de Milagres do Maranhão, Sr Fabio mancomunado com um japonês, ingressou com um documento no Instituto de Terras do Maranhão para morder 3. 700 hectares de chapada. A assessoria jurídica do órgão concordou com o pleito, mas o diretor Miguel negou, suspeitando que a documentação fosse falsa. Essa chapada compreende várias comunidades, entre elas Macacos dos Vitor, Várzea de Baixo e Lagoa Seca que esbravejam para criar um assentamento nessa área. Como num cabo de guerra, o Sr. Fabio pede para que seus empregados impeçam a passagem dos moradores rumo a Milagres ou para apanhar algum pau na Chapada.
A Paineiras, empresa de reflorestamento com eucalipto e subsidiária da Suzano Papel e Celulose, acha pouco o monte de terras que o Estado maranhense entregou de bandeja nesses mais de quinze anos de Baixo Parnaíba, tanto que cai matando em cima de 900 hectares da comunidade quilombola de Santa Tereza, município de Milagres do Maranhão.
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Mayron Régis, jornalista Fórum Carajás - Esse texto faz parte do programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba, apoiado pela ICCO e realizado de forma conjunta com a SMDH, CCN e Fórum em Defesa do Baixo Parnaíba.

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