Conheço Chapadinha desde 1978. Há trinta e três anos! Então, era uma cidade pequenina, comércio reduzido, bairros com poucas casas e, muitas, cobertas de palha. O transporte do interior feito em jumento. Apenas dois caminhões, dos fazendeiros. Proprietário rico tinha cavalo. Bicicleta era luxo. A segunda motoca da cidade foi a nossa motoca branca. Os coronéis mandavam em tudo. A Delegacia e toda a força policial estavam controladas pelos fazendeiros e políticos. As poucas escolas eram pobres barracões ou a cozinha da professora, para ela ensinar e cozinhar ao mesmo tempo. Pouco ganhava. Nalguns casos, só tinha a terceira série básica.
No período eleitoral, confrontavam-se as famílias influentes, os coronéis. Não havia liberdade nem informação. Os currais eleitorais funcionavam em pleno, com intensa propaganda na boca de urna. Quem escolhia o candidato era o fazendeiro. Quem não obedecesse podia desamarrar a rede. Todas as palhotas tinham um cartaz do candidato à porta. Era o único enfeite da casa dos pobres!
O chefe político era rei, monarca absoluto. Os coronéis tinham poder para prender e castigar. Quem marcava o preço do que se vendia ou comprava era o fazendeiro. Ninguém podia ter armazém e as famílias eram apenas “moradoras”. Seriam despedidas à menor desconfiança. Era o costume!
Passados trinta e poucos anos, muita coisa mudou. Chegou a luz elétrica a substituiu a lamparina, a oferecer televisão, a enobrecer o ambiente familiar. Agora já se pode telefonar do interior, beber água gelada em qualquer lado. Ter bicicleta é mixaria e os jumentos quase desapeceram. Só aparecem na estrada para chatear. Os assentamentos da Reforma Agrária estão por toda a parte. Chapadinha é o Município no Maranhão com mais assentamentos. Motocas são demais. O parque automóvel aumentou assustadoramente. Nos bairros já não se vê casas cobertas de palha. A classe pobre subiu para média. O sistema habitacional desenvolveu-se.
Hoje Chapadinha tem habitações belas e ricas. Mesmo, no interior, já há vilas bonitas, escolas em alvenaria e assentamentos com casas dignas. A educação aperfeiçoou-se e temos já universidades. O comércio (nem se compara!) desenvolveu-se e domina a Região do Baixo Parnaíba. Por toda a parte se nota mudanças para melhor. A comunidade católica tinha 14 capelas na cidade. Agora está construindo grandes igrejas. No interior há capelas bonitas.
Mas há duas coisas que estagnaram: a agricultura e a política. A terra continua sendo cultivada como há 500 anos, com facão e sementeira no meio dos tocos. Apenas a servir a subsistência. E muito mal! Nada de agricultura familiar, nem alfaias agrícolas de tração animal ou com trator. Exceção feita ao agronegócio, é claro!
Na política, a mesma coisa. A ditadura de sempre, com os grandes do dinheiro e da influência a decidir, sem a participação do povo, sem transparência nem compromisso público. Uma política rancorosa e vingativa, a despedir ou a comprar quem não lê pela mesma cartinha. Obras públicas quase não existem. Olhem a rodoviária e o ginásio esportivo! O povo recorre à pedincha durante as campanhas e vota em quem lhe dá dinheiro ou favores. O social não importa. Os vereadores são generosos distribuidores da verba pública. Do Município ou do Estado. Dão dinheiro como quem dá milho a galinhas. E assim compram votos. Quem fala em moral ou compromisso social é porque não percebe nada disto. Democracia? Aonde? Pura “moneicracia”, o poder do dinheiro!
As decisões fazem-se nos bastidores, no silêncio dos encontros com os apaniguados. As secretarias municipais não funcionam, nem se sabe onde existem. A centralização é tal que domina tudo. É a ditadura democrática, o governo dos despreparados e da roubalheira, a vergonha do Nordeste. A maioria na Câmara, comprada e bem paga, fica silenciosa e aprova contas que o Tribunal de contas reprovou. Quem administra governa-se para a nova eleição e para aumentar o património que até tem medo de registrar em nome próprio. As garotas mais pretenciosas gostam do processo. Sem qualquer capacidade e experiência, estão altaneiras a pedir a preferência. Nepotismo à vontade.
A oposição só para dizer que o adversário nada fez (o que todos já sabem e com provas convincentes!) E viva a brincadeira! Isto é do que o povo gosta! Quem fizer diferente não é gente! Pobres de nós! Até quando?
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*Extraído do Boletim Formativo e Informativo da Paróquia de Nsa. Sra. das Dores - Chapadinha/MA - Nº 20 - 1º de Maio de 2011
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