terça-feira, 26 de abril de 2011

Solidão

Por: Anaximandro Silva Cavalcanti - Psicólogo

700.000 novos membros são adicionados todos os dias no facebook, aproximadamente a população da Guyana, e mais de 210 bilhões de emails são enviados diariamente,1 no entanto, é cada vez maior o número de pessoas se queixando da solidão. Como em uma época de tamanha comunicação, as pessoas se sintam tão sós? Hora, a tecnologia não trabalha a favor de relações, pelo contrário, ela acaba proporcionando um empobrecimento nas relações interpessoais.

Quanto mais a pessoa se relaciona virtualmente, mais só ela se torna, isso porque no mundo virtual falta o fator humano, as desavenças, as opiniões contrárias, as discussões, que nos fazem perceber como pessoas. Por mais que você se comunique, por mais amigos que você adicione na sua rede social, nunca vão suprir a necessidade de comunicar-se, isso porque as pessoas não adicionam amigos nessas redes vizando comunicação, nem muito menos amizade. O que ocorre é que geralmente na solidão, as pessoas procuram suprí-la procurando algo ou alguém que as farão sertir-se bem, daí pensam que um grande número de amigos em suas redes sociais vão lhes fazer sentir menos sós, mas o que ocorre na maioria das vezes é que, esses “algo a mais”, lugares e pessoas não têm nada a ver consigo, resultado: uma solidão ainda mais sentida.

A ideia que se tem da solidão é de um sentimento doloroso que nos acomete em determinados momentos da vida. Na verdade, ela é uma condição imanente ao homem. Só que, em certos momentos a percebemos mais agudamente e daí nos perguntamos como ela nos apanhou. O que aconteceu foi que, nessas circunstâncias, entramos em confronto com a solidão.

A solidão parece estar longe quando mantemos um relacionamento muito estreito, muito íntimo, com alguém que amamos. Ora, somos parte de um todo – de uma família, de um grupo de amigos, de uma comunidade. Com o outro ou em grupo, procuramos suprir as carências e a necessidade de nos sentirmos amados, desejados. Só quando o outro nos vê e nos reconhece, sentimos amenizar o peso da solidão, em função da convivência e da integração, mas não deixamos de ser fundamentalmente sós, então quando um adolescente anda por aí fazendo um enorme barulho com a sua moto, está dizendo: “vejam, eu existo,” e assim como para o ciberviciado, falta a ele o olhar do outro, a diferença aqui, é que, um tenta chamar a atenção para si em um processo histérico, e o outro em um processo narcisista. Mas a causa é a mesma, a solidão, e entrar em contato com ela não é fácil.

Para os amigos e leitores desse blog que se no momento passam por momentos de solidão eu gostaria de dar uma palavra de apoio dizendo-lhes que há momentos em que as perspectivas se perdem e o sofrimento vence. Esses são períodos críticos, de perdas reais ou aparentes, mas lembre-se, voce não é apenas um ser com sofrimentos, mas também com significado. Sua própria existência lhe força procurar uma realização cada vez maior, você pode crescer afetivamente e emocionalmente, contrapondo esses ganhos aos sofrimentos que a vida lhe traz. E nessa procura os caminhos mudam em cada fase da vida.

*1Dados publicados pelo site Online Education:
Acessado dia 23/04/2011 às 00h25min